Vago ou lotado, o ambiente de um ônibus acolhe os mais diversos tipos como o coração de uma mãe que já teve 3 infartos e tem duas pontes de safena. Motorista, cobrador, passageiros, vendedores, pedintes, bêbados, ladrões...e até pregadores.
O pregador que vi no ônibus era dos mais empolgados, ele gritava e levantava as mãos para o alto na tentativa de tirar alguma alma do mal caminho. E no auge da empolgação, o homem de Deus disse: "irmãos, levantemos as mãos para o céu...", foi quando, repentinamente, o sinal ficou vermelho e o motorista freiou bruscamente. E o homem de Deus caiu sentado no chão e escorregou até perto do motorista (com direito à famosa vaia cearense). Na mesma hora, ele ficou vermelho de vergonha e se aperreou tanto que esqueceu a Bíblia no chão e desceu do ônibus. O trocador disse que a devolveria quando o sujeito aparecesse de novo, mas pelo jeito, ninguém teve mais notícias dele.
...
Algumas horas depois, no mesmo dia, presenciei de perto um acidente de trânsito envolvendo uma Brasília e um Fiat 147 e foi fatal para o bolso de duas pessoas.
Um cidadão pilotava sua Brasília em uma avenida...e o sinal ficou vermelho de uma vez. Ele conseguiu parar a tempo, mas esse não foi o caso de quem vinha atrás num FIAT 147.
E uma batida aconteceu...
O motorista do FIAT disse que o carro estava sem freio nenhum e que aquilo não foi culpa dele. O dono da Brasília colocou as mãos na cabeça dizendo que deixara de comprar um botijão de gás para abastecer o carro e que não tinha como pagar o prejuízo. O outro se defendeu falando que devia até as calças e que não podia nem pagar o IPVA de seu bólido, quanto mais arcar com os custos do incidente. Um deles disse que não podia ter o carro guinchado pois dependia dele para viver, e o outro disse que apanharia ao chegar em casa sem o veículo.
A conversa continuou no rumo da falência conjunta de economias, até que eles resolveram ir embora, cada um com sua macchina danificada pela ferrugem, pelo tempo e por uma batida inesperada.
E eu? Eu continuei esperando o ônibus pra voltar pra casa.
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